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Índice de médicos em capital chega a quatro vezes o total no Estado


18-02-2013 15:22 - Folha de S. Paulo

A proporção de médicos nas capitais do país supera em muito o índice de médicos nos Estados como um todo --e, assim, no interior dos Estados.

A capital campeã na proporção de médicos é Vitória, com 11,61 médicos para cada 1.000 habitantes. O Estado do Espírito Santo como um todo tem a razão de 2,17 médicos por 1.000 habitantes, segundo levantamento divulgado nesta segunda-feira (18) pelo CFM (Conselho Federal de Medicina).

A situação do Espírito Santo, porém, é uma das mais confortáveis do país. O Estado supera a proporção nacional de médicos, que chegou a 2 em outubro do ano passado.

O estudo indica que os Estados com os piores índices gerais --Maranhão (0,71), Pará (0,84) e Amapá (0,95)-- têm situação ainda mais precária no interior. Isso porque nas capitais os índices são bem melhores: São Luís registrou 2,88 médicos por 1.000 habitantes, Belém tem 3,44 e Macapá, 1,38.

Na outra ponta, Distrito Federal, Rio de Janeiro e São Paulo são as unidades da federação com as melhores proporções desses profissionais --respectivamente, com 4,09, 3,62 e 2,64 médicos por 1.000 habitantes.

Essa é a segunda rodada do estudo "Demografia Médica no Brasil", elaborado pelo CFM. Em outubro de 2012, 388.015 médicos estavam em atividade no país. Esse número indica um crescimento de 557,72% no número de médicos no país desde 1970.

"A perspectiva atual é de manutenção dessa curva ascendente", analisa o levantamento da entidade, até pela recente abertura de novos cursos de medicina no país, que ainda não formaram suas primeiras turmas.

O CFM tem posição contrária à abertura indiscriminada de novos cursos de medicina e à possibilidade de o governo flexibilizar a entrada de médicos com formação no exterior.

"O objetivo principal do estudo é qualificar o debate sobre a necessidade ou não de mais médicos no Brasil. Com deputados, senadores e principalmente o governo, que nesse momento apoia o aumento do número de médicos", diz Desiré Callegari, 1º secretário do CFM.

O presidente do conselho, Roberto D‘Ávila, fez duras críticas ao governo federal durante coletiva nesta segunda. "Vem o governo, com efeito cosmético, tentar enganar e dizer ‘agora, com mais escolas, e trazendo médicos de fora, mas sem avaliar sua competência, o problema [da falta de assistência] estará resolvido‘. É um equívoco."

DESIGUALDADES REGIONAIS

Para o CFM, é preciso resolver a desigualdade na distribuição de médicos no país para acabar com o problema da falta de médicos em alguns locais --assim, não bastaria apenas aumentar o contingente dos profissionais.

Enquanto o Brasil tem índice de 2 médicos para cada 1.000 habitantes, o Sudeste tem índice de 2,67, o Sul fica com 2,09 e o Centro-Oeste com 2,05. Abaixo da média nacional estão o Nordeste (1,23) e o Norte (1,01).

Outro aspecto que diferencia a presença de médicos, segundo registrado pelo estudo, é a divisão serviço público ou privado. Um cruzamento de dados do CNES (Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde) aponta para uma proporção de 1,11 médico para cada mil habitantes no SUS --dado que pode estar subestimando, pela falta de atualizações no cadastro.

"Nosso estudo aponta desigualdades. São três dimensões de desigualdades: entre o serviço público e o privado, uma desigualdade regional e entre as especialidades médicas", explica Mario Scheffer, coordenador do estudo e professor da USP.

O professor conclui: "Falta médico no Brasil? Claro que falta. Falta nos planos de saúde baratos e populares --que o governo irresponsavelmente está deixando que sejam comercializados--, em várias especialidades, em vários locais do país, na rede pública."

Mas o problema não é puramente a falta de médicos, avalia Renato Azevedo Junior, presidente do Cremesp (Conselho Regional de Medicina de São Paulo). "Confunde-se dificuldade de contratação de médicos com falta de médico. E por que tem a dificuldade de contratação? Porque não há políticas públicas que atraiam o médico para o serviço público."

FACULDADE QUE NÃO FIXA

O levantamento reforça a tese de que a faculdade de medicina não fixa, necessariamente, o profissional no local em que ele se formou. Tese que é encampada tanto pelas entidades médicas quanto pelo próprio Ministério da Saúde, que acredita que a residência médica tem maior potencial para fixar o profissional.

Dos 107.114 médicos que se graduaram em local diferente de onde nasceu, nas últimas três décadas, apenas 25,3% ficaram na cidade em que se formaram no curso de medicina.

"O local de graduação não é o fator que mais determina a fixação do médico. A volta para casa, na verdade, é uma acomodação nos grandes centros. Eles saíram dos grandes centros para fazer a faculdade, talvez fugindo da alta concorrência ou custo do curso e retornam ao final. E 60% dos que ficaram onde de formaram são de sete capitais, cinco delas no Sudeste", diz Scheffer.

Como descrito em reportagem da Folha, o governo trabalha para que novas escolas de medicina sejam abertas em locais onde há demandas por faculdades, médicos e onde há leitos e outras estruturas para a formação do médico. 


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