As enchentes podem até ter dado
uma trégua no Rio Grande do Sul, mas os estragos dessa – que foi a maior
tragédia ambiental registrada no estado – seguem impactando as vidas das
pessoas e adiando – até tirando as esperanças – o recomeço. Sem se intimar com
as dificuldades enfrentadas pela população local, Ligia Christiane Arfeli, enfermeira lotada no
SAMU, é uma representante de Mato Grosso. A filiada do SISMA/MT integra a Força
Nacional do Sistema Único de Saúde (SUS) e está atuando na cidade de Canoas.
Conforme seu próprio relato, a
situação é muito difícil, pois o momento pós-enchente revela os verdadeiros
danos, perdas e prejuízos. “Tudo muito difícil, é o momento em que as pessoas
estão se deparando com a tragédia, enfrentando a tragédia do pós-enchente. É a
constatação de que nada ficou de pé, tudo está destruído, da casa aos móveis.
Animais mortos. Sensação de completa desolação, sem norte, a maioria sem ânimo
de recomeçar. É muito triste ver tanta gente sofrendo”.
Como explica, ela integra a Força
nacional com 63 profissionais da área da saúde. De Mato Grosso, apenas ela se
voluntariou. “Aqui {em Canoas} nós estamos no hospital de campanha ofertando
atendimento médico de urgência e emergência e tudo o que precisar,
especialmente atendimento às pessoas que ainda estão em abrigos. A equipe tem
médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e farmacêuticos. É uma escala
puxada de serviço, muito serviço, mas está sendo muito gratificante participar
desse momento e poder levar um pouco de consolo, de cuidado, de assistência, de
amparo para esse pessoal aqui, um pouco de esperança também. Porque a gente
conversa muito, o trabalho vai além”, completou.
O presidente do SISMA MT, Carlos
Mesquita, destaca com orgulho a dedicação da colega e servidora do SUS. “As
enchentes arrasaram cidades e há mais de um mês muitas pessoas seguem sem poder
voltar para suas casas e sem chances de saber quando poderão tentar retomar a
rotina, a vida. A destruição atingiu níveis que a gente nem consegue acreditar,
ou ter a percepção da sua extensão e dos impactos de seus danos, somente
estando lá. E eu fico orgulhoso por saber que existem profissionais do SUS de
MT, especialmente do SAMU, que se dedicam ao próximo de forma direta,
presencial. O acolhimento, a escuta e disponibilidade do tempo de cada um têm o
mesmo efeito, faz tão bem quanto o atendimento médico. Me atrevo a dizer, que
em alguns casos, a escuta é o melhor remédio, pois as pessoas atingidas estão
fragilizadas e precisam ser ouvidas”.
Lígia destaca ainda que bairros
inteiros estão repletos de montanhas e montanhas de lixos, de coisas que não
prestam mais. A enchente trouxe lama de esgoto para dentro das casas, então o
odor é horrível. Essa realidade causa muitas doenças, tanto respiratórias,
quanto gastrointestinais e aumenta o risco de uma leptospirose. Mas o nosso
trabalho é cuidar dessa gente, amparar essa gente, a gente ainda está
atendendo, tem muita gente no abrigo ainda. Estamos atendendo, cuidando e
orientando”.