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Um anestésico comprometido


09-01-2013 18:27 - Turma do Epa

Os lotes de “propofol” – substância anestésica para cirurgias – adquiridos pela Prefeitura de Cuiabá, na gestão de Chico Galindo, pelo sobrinho Lamartine Godoy, então na Secretaria de Saúde, podem colocar em risco um procedimento médico complexo que é a anestesia para atos cirúrgicos.

Médicos do Pronto Socorro Municipal denunciam a baixa qualidade do produto, cujo princípio ativo é importado da Coreia do Sul, fabricado pelo Laboratório Dong Kook Pharm Co Ltd de Chong Gheong Book – Do – Coréia do Sul, tido por anestésico de segunda linha e cuja eficácia é reduzida obrigando os médicos anestesistas a aplicaram doses em dobro do propofol coreano para obterem efeito semelhante ao mesmo produto fabricado no Brasil.

O risco

Médicos anestesistas constataram, ainda, falhas inerentes ao processo produtivo do Laboratório Coreano já que o “propofol” importado não possui a homogeneidade necessária para o emprego de dosagem padrão, típica do produto brasileiro.

Como as reações orgânicas são diferentes, a indução anestésica se torna um procedimento mais complexo e arriscado do que usualmente já é. Além do histórico clínico do paciente e suscetibilidades orgânicas, o médico ainda é obrigado a reconhecer a procedência do anestésico e a monitorar, cautelosamente, os sinais vitais do paciente para encontrar o “ponto ótimo” da anestesia.

Tudo isto torna o procedimento cirúrgico, cotidianamente tenso, ainda mais carregado pela imposição adicional de stress.

“Propofol” matou Michael Jackson

A denominação “leite” para o propofol se deve à aparência branca, típica de produto láteo, celebrizado numa expressão do cantor americano Michael Jackson que se referia ao produto: “This is my Milk” (Este é meu leite), o que popularizou a comparação.

O astro do “show business” americano, enfrentava uma forte carga de stress na preparação de um espetáculo que iria marcar o início de uma tournée pelo mundo, pois, acumulava dívidas depois de uma interrupção da carreira onde foi acusado de pedofilia. Procedimentos cirúrgicos e sequelas de queimadura sujeitavam-no a crises de dores que o levaram a se viciar em anestésicos, em especial o propofol.

Conselho Médico dos EUA – semelhante a um Conselho Federal de Medicina no Brasil – concluiu que não foi somente a mistura de outros ansiolíticos e soníferos em dosagem alta que provocaram a parada cardíaca do cantor, mas, substancialmente foi a dose indutora elevada, provavelmente pela baixa qualidade do medicamento que fugiu ao controle médico ainda que fosse um cardiologista quem estivesse fazendo a aplicação do medicamento.

Depois do incidente mortal que ganhou dimensão universalizada por envolver um ícone do “show business” a segurança do anestésico é, até hoje questionada e daí os requisitos de homogeneidade e cuidados de fabricação.

Os profissionais médicos do Pronto Socorro já se referem ao “propofol” importado como “piracanjuba desnatada”. Isso tem a ver com jargões do meio médico associados à cor e eficácia reduzida do medicamento denominado “Piracanjuba desnatada” por influência de uma recente campanha dessa marca de leite na TV e o “desnatada” como indicativo da baixa qualidade do produto adquirido pela Secretaria Municipal de Saúde.

Lotes de qualidade comprometida e suspeita de sobrepreço

Ainda que os comentários estejam circulando apenas num círculo médico restrito é indispensável que a Secretaria de Saúde, agora sob a gestão do reconhecido médico Kamil Fares, faça diligências sobre esse assunto para, no mínimo, evitar o emprego de produtos de baixa qualidade em procedimentos de risco na rede de saúde pública como vem acontecendo com os estoques de passagem.

Talvez seja a oportunidade, inclusive, para o prefeito que deseja implantar uma gestão capaz de marcar época, examinar com lupa a escolha de Lamartine Godoy para compor o secretariado à frente da pasta de Desenvolvimento Urbano, pois, o exame de sua ficha pregressa não é lá muito abonador.

Mais do que um coringa capaz de desempenhar qualquer papel, como foi o sobrinho do ex-prefeito, é necessário um profissional ajustado e qualificado para a função e não mero arranjo político capaz de desfigurar um início de gestão, colocando-a, desde já, sob suspeita e, pior ainda, por sugerir comprometimentos políticos que a população desconhece. 


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