Cartinhas aguardam padrinhos

 “Querido papai Noel”. A frase, escrita em mais de cinco mil cartas enviadas por crianças de várias creches, escolas e abrigos aos correios de Mato Grosso, não se dirige exclusivamente ao bom velhinho, mas àquele que se decidir por apadrinhá-la. 

O projeto “Papai Noel dos Correios” não exige que a pessoa se vista de vermelho e coloque uma barba branca artificial, mas dá a oportunidade de qualquer um realizar o desejo natalino de uma criança. “As cartas são todas abertas para que se possa escolher a que mais lhe agradar. Depois de comprado o presente, é só trazer aqui de volta, e a gente manda, sem cobrar, para o endereço da criança”, disse Gilmar Ivens Ribeiro, coordenador regional do projeto. 

Patins, bicicletas, bonecas, carrinhos e até mesmo notebooks. Os pedidos são inúmeros e muito variados. No entanto, de acordo com uma contagem dos Correios, material escolar e cestas básicas tem sido muito requisitados. “A iniciativa é feita para a população que mora em áreas de risco, de famílias carentes. A maioria que pede bicicleta, não é só para diversão, mas para ir à escola”, explicou Ribeiro. 

Recheadas de histórias emocionantes, tristes e engraçadas, as crianças muitas vezes pedem coisas inusitadas. “Meu nome é Rafaela, tenho 10 anos, moro com minha mãe e dois irmãos. Meus pais são separados e eu quero que ele volte. Fiz de tudo, mas não deu certo. Vou continuar tentando até conseguir!”, dizia uma das cartas. 

Outra, escrita por Pamela, de 14 anos, contava a história de sua família. Com três irmãos, os pais não têm condições de presentear todos, “Por isso eu queria pedir um presente muito especial: um short tamanho 40, uma camiseta regata 12, um tênis All Star ou bota número 40. Mas, o mais importante, meu material escolar”. 

Na falta de palavras, crianças no inicio da alfabetização desenham seus pedidos com capricho, colorindo as bordas, retratando a si mesmas ao lado do papai Noel, e seus presentes embaixo de luminosas árvores de natal. 

“Eu me apaixonei pelo projeto em 2009. Ano passado eu peguei a carta de uma menina que queria o material escolar todo da Moranguinho. Foi um trabalho danado achar tudo, mas depois eu embrulhei num pacote todo vermelho e até passei perfume de morango. É muito gostoso participar”, contou a advogada Aline de Oliveira, 25 anos, que, junto com o marido, Valdir, 55, escolhiam seus “afilhados” deste natal. 

De acordo com o último relatório da central dos Correios, já foram 3.825 cartas cadastradas, sendo que 2.598 já haviam sido adotadas por alguém. 

Para adotar uma cartinha e realizar o desejo de uma criança, basta se dirigir a Diretoria Regional dos Correios, na avenida Tenente Coronel Duarte, 897, esquina com a rua Comandante Comendador Henrique, no centro de Cuiabá. 

No pacote ou embrulho do presente, o padrinho deve colocar o código escrito no canto superior de cada cartinha, para que ela seja entregue no endereço certo. Os que desejarem ajudar de outra forma, os correios aceitam voluntários para ler e cadastrar as cartas.