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Venenos aumentam a resistência do Aedes aegypti


29-02-2016 09:47 - ALECY ALVES

A combinação de venenos para combater pragas nas lavouras, larvicida nos reservatórios domésticos de água, o fumacê, falta de saneamento básico e de água potável e uso indiscriminado de repelentes químicos pode estar potencializando o vírus da Zika.

Tornando mais resistente o mosquito Aedes aegypti, transmissor das diversas formas de dengue, Chikungunya e, mais recentemente, da temida Zika, contra a qual estão sendo atribuídos milhares de casos de microcefalia no Brasil, que é a má formação em bebês.

Somente nos primeiros 45 dias deste ano, entre 1º de janeiro e 13 de fevereiro, foram notificados 7.097 casos de dengue, um aumento de mais de 200% em comparação com o mesmo período de 2015, quando 2.048 casos foram notificados.

De Zika já são 4.053 casos suspeitos, notificados por 79 municípios. Está sendo investigada a relação da doença com 121 casos de bebês que nasceram com microcefalia, segundo dados da Secretaria Estadual de Saúde.

Doutor em Saúde Pública, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e professor da Universidade Federal de Mato Grosso, Wanderley Pignati é um dos estudiosos que assinam a nota técnica da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco).

O documento, divulgado este mês, trata da microcefalia e outras doenças vetoriais relacionadas ao Aedes aegypti. A Abrasco questiona, chama à reflexão e propõe mudanças imediatas nas normas padronizadas pelo Ministério da Saúde para o combate ao mosquito, como a suspensão do uso do inseticida Melathion utilizado no chamado fumacê e em cortinas de barreira contra o mosquito. Esse veneno pode ser rapidamente absorvido por via dérmica, respiratória e trato digestivo, quando da aplicação por técnica de pulverização, como acontece no combate ao mosquito.

“Esse produto é neurotóxico, reduz a imunidade, provoca distúrbios hormonais e é um potencial cancerígeno”, assinala Pignati. “Já o larvicida despejado na água consumida pela população, a Pyriproxyfen, causa desregulação endócrina, hormonal, que também pode induzir à má formação do feto”, alerta.

Integrante do Grupo de Trabalho Saúde do Trabalhador na Abrasco, Pignati destaca que a combinação de Melathion e Pyriproxyfen pode está potencializando o vírus da Zika, tornando-o mais forte, mais resistente às medidas de combate.

Na análise dos pesquisadores, como é sabido que as pulverizações não matam todos os insetos, aqueles que sobrevivem se tornam mais resistentes e se reproduzem dando vida a mosquitos mais resistentes, e fazendo com que doses a mais de veneno precisem ser usadas na tentativa de eliminá-los.

Em uma semana, entre 14 e 20 deste, somente em Cuiabá 4.812 residências receberam tratamento com larvicida e borrifação. Os agentes trataram nesses imóveis 5.837 depósitos de água, conforme dados do último ‘Boletim da Dengue’, divulgado pelo Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde (CIEVS), da Secretaria de Saúde de Cuiabá.

Wanderley Pignati lembra que, desde que os primeiros casos de dengue foram registrados no Brasil, há 40 anos, os métodos de combate ao mosquito são os mesmos, enquanto o inseto e as doenças transmitidas por ele se agravam e proliferam.

Mudar o foco do combate ao mosquito e adotar políticas de saúde pública que melhorem a qualidade de vida das populações mais pobres estão na lista de alertas e questionamentos apontados na nota técnica da Abrasco.

Isso inclui investimentos em tratamento de esgoto e água potável chegando em quantidade suficiente nas casas, para que as pessoas não precisem armazenar o produto de maneira inadequada.

Uso de repelentes também requer cuidados

Além dos venenos, inseticida e larvicidas, agora a população precisa ficar atenta também aos repelentes - que não são tão inofensivos quanto se pensa ou querem fazer a população acreditar, segundo Wanderley Pignati. Se não for natural, à base de citrolena (uma planta gramínea), há riscos de intoxicação, alergia e outras reações adversas. Em crianças com idade entre dois e 12 anos, por exemplo, além de não poder utilizar mais de três vezes ao dia, as exigências sobre como aplicar são maiores.

Em 2013, por exemplo, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), baixou uma regulamentação(RDC 19/2013) para fabricação e uso do produto. Entre outras recomendações estão: não aplicar repelente em crianças menores de 12 (doze) anos, exceto se a fórmula contar com concentração máxima de DEET (o produto químico que repele o inseto) de 11% e 30%.

Um dos parágrafos da resolução diz: “São permitidas as formulações contendo DEET, em concentrações superiores a 30% (trinta por cento) para pessoas com idade superior a 12 anos, desde que sejam realizados estudos de avaliação de risco para humanos, levando-se em consideração a frequência de aplicação”.

Também exige do fabricante que imprima no rótulo o tempo para reaplicação do produto com base no resultado do teste de eficácia da espécie de mosquito que resultou em menor tempo de repelência, obedecendo, quando for o caso, o número de aplicações máximas; o ingrediente ativo e sua concentração, as frases de advertência, entre outras.

Acontece, conforme Pignati, que há fabricantes que introduzem índices de citronela na combinação química como forma de fazer o consumidor acreditar que está usando um produto que não põe sua saúde em risco. “O não nocivo só vale se for puro, de citronela”, alerta o pesquisador. A recomendação dele é para que se faça opção pelo natural e, quando isso não for possível, ficar atendo às recomendações sobre a composição. (AA)



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