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SAÚDE: Mais de 90% das pessoas se automedicam


01-02-2016 12:06 - ALECY ALVES

O surgimento do ditado popular “de médico e louco todos nós temos um pouco” poderia bem ser explicado no hábito do brasileiro de não apenas se automedicar, mas também receitar remédios aos parentes e amigos.

Uma pesquisa realizada no final de 2014 e divulgada na semana passada apontou que a automedicação é uma prática comum entre mais de 90% da população.

Realizada pelo Instituto de Pesquisa Hibo (com suporte da Medecell do Brasil), o estudo usou como referência a população da região Sudeste, onde apenas 8% dos entrevistados responderam que nunca se automedicaram.

Como o foco da pesquisa era a automedicação em episódios de dor, a conclusão a que se chegou foi de que quem tem dor tem pressa, não espera a consulta e indicação médica para fazer uso de analgésicos, especialmente os orais.

As dores de cabeça (42%), lombar (41%), cervical (28%) e pernas (26%), seriam as responsáveis pela grande parcela do consumo indiscriminado de medicamentos.

O pior é que o brasileiro tem consciência dos malefícios da ingestão excessiva ou indevida de remédios. Mesmo assim, 45% das pessoas acreditam que a automedicação só é prejudicial à saúde quando ingerem remédios de tarja vermelha ou preta, aqueles cujo uso está condicionado à emissão de receita médica.

Mas, de forma geral, os dados mostram que 74% da população têm em mente que a automedicação é prejudicial à saúde e que evitar o consumo de medicamentos pode ser benéfico no futuro.

O administrador de empresas Helton César Alves, de 36 anos, conhece bem as consequências da automedicação. A experiência quase trágica dele ocorreu com um “simples” xarope contra a gripe.

Por causa da ingestão do medicamento, Helton teve que ser levado às pressas para o pronto-atendimento de uma unidade hospitalar. Com arritmia cardíaca grave, foi direto para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

Ele conta que bebeu o xarope, um broncodilatador, que uma pediatra havia receitado para o filho dele, Raí, na época com cinco anos.

Acreditando que poderia potencializar os efeitos do medicamento pediátrico que seria teoricamente mais fraco por ser de uso infantil, Helton tomou a dose máxima.

“Em menos de 5 minutos senti meu coração acelerado e um mal-estar indescritível. Pensei que iria morrer”, conta. Socorrido pela esposa, Ana Angélica, o administrador passou o dia todo sendo monitorado na UTI.

Hoje, ele sabe que abusou da sorte, pois na época da automedicação já havia sido diagnóstico portador de uma leve arritmia cardíaca.

VENDA LIVRE – A professora Maria Ângela dos Anjos Pereira e Sousa, 44 anos, viveu experiência similar. Por causa de dores na coluna e nas pernas, decidiu tomar um desses relaxantes musculares de venda livre. “Não estava suportando, era uma dor que parecia ter vida própria, percorria o corpo todo”, justifica.

O medicamento que ela fazia uso contínuo, por indicação médica, havia acabado e ela tomou um outro indicado por uma colega de trabalho. “Nem me recordo o nome, sei que menos de uma hora depois da ingestão minhas vistas escureceram e eu tive de me sentar para não cair”, recorda.

Socorrida por uma colega da escola, no hospital descobriu que o medicamento havia lhe causado uma queda brusca da pressão arterial. Desde então redobrou os cuidados com medicamentos, tanto com ela quanto com os dois filhos, Luiz, de 15 anos, e Ana Maria, de 12.

Médico ou farmacêutico deve ser ouvido

A questão da automedicação é tão grave no país que o Ministério da Saúde até instituiu o Comitê Nacional para a Promoção do Uso Racional de Medicamentos, para identificar e propor estratégias e mecanismos de articulação, de monitoramento e de avaliação da automedicação e uso indiscriminado de medicamentos.

Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a utilização de medicamentos é feita por conta própria ou por indicação de pessoas não-habilitadas para tratamento de doenças cujos sintomas são "percebidos" pelo usuário, mas sem a avaliação de um profissional de saúde.

Já o uso indiscriminado está relacionado à "medicalização", ou seja, uma forma de encontrar a cura para doenças e promover o bem-estar usando exclusivamente medicamentos, o que pode levar ao consumo excessivo e constante destes produtos.

E ainda recomenda: “Quando você achar que tem algum problema de saúde, procure um médico, não acate recomendações de vizinhos, amigos, parentes ou mesmo de balconistas de farmácias ou drogarias. Não confunda o balconista da farmácia com o profissional farmacêutico na consulta médica, informe se você já utiliza algum medicamento e se faz uso frequente de bebidas alcoólicas”.

E continua: “No momento de adquirir medicamentos de venda livre (aqueles considerados de baixo risco para tratar males menores e recorrentes, como dor de cabeça), procure orientações de um farmacêutico”. Esse profissional também tem um importante papel dentro do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária. Ele deve notificar às autoridades de saúde a ocorrência de qualquer efeito adverso não esperado pelo uso de medicamentos. (AA)

Automedicação também é comum na terceira idade

Em Mato Grosso, pelo menos que se tenha conhecimento público amplo, não há pesquisas científicas sobre automedicação.

Entretanto, na VI Mostra de Pós Graduação da UFMT, em 2014, Natália Araújo de Almeida apresentou o estudo intitulado “Perfil da Automedicação em Idosos Residentes na Comunidade”, que fez entre idosos residentes em Cuiabá para o curso de mestrado em Enfermagem.

Resultado: dos 573 idosos participantes 80,8% responderam que fazem uso de medicamentos sem receita médica. Desses, para 84,9% a automedicação era por conta própria e 15,1% indicação de amigos/ farmacêutico e outro profissional.

A maioria, 64,1%, se automedicavam com remédios de venda livre tais como analgésico, relaxantes musculares, anti-inflamatórios, vitaminas, antipiréticos, entre outros.

Além disso, 13,21% admitiram que se automedicam com medicamentos que necessitam de receita médica, como anti-hipertensivos e corticóides de uso sistêmico. Ela identificou 53 tipos de remédios que os idosos faziam uso por iniciativa própria.

Utilizando como base do seu trabalho, outra pesquisa (Cardoso (2013), que avaliou as condições de saúde dos idosos residentes na zona urbana da capital mato-grossense, a mestre em enfermagem ainda levantou que os idosos entrevistados estavam divididos em 60% homens e 40,0% mulheres. A média de idade era de 72,5 anos, 52,7% casados e 45,6% de baixa escolaridade.

Quando a própria condição de saúde, 35,6% avaliaram como “ruim ou péssima”. Somente 5,8% não reclamaram de problemas de saúde, ou seja, 94,2% apresentavam alguma patologia. (AA)


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