Com a presença do ministro da saúde, Arthur Chioro, foi inaugurado ontem o Hospital São Benedito, que funcionará como referência para demandas de alta complexidade, incluindo delicadas cirurgias. A presença do ministro se justifica, aliás, se a presidente da República também viesse a Cuiabá não seria nenhum exagero. A ocasião suscitava tal prestígio. Afinal, não é todo dia que se inaugura um hospital com leitos públicos na Capital de Mato Grosso. Para ter mais precisão: exatos 31 anos sem abertura de uma unidade de saúde sequer por essas bandas, período que coincide com o rápido crescimento da cidade e seus arredores. Apenas por essa razão, já era de se esperar por algum incremento no setor, pois a população aumentou, os conflitos também, bem como a quantidade de carros e motos nas ruas e, por consequência, de acidentes de trânsito. São três décadas de acúmulo de problemas nos hospitais que, com o passar dos anos, foram se tornando cada vez mais comuns e corriqueiros. No avião que o trouxe a Mato Grosso, provavelmente o ministro teve um tempinho para se inteirar das notícias locais e deve ter se deparado com o caso do homem de 58 anos, dado como morto, que retornou vivo do necrotério do Pronto-Socorro de Cuiabá.
O episódio, embora seja pontual e bastante excêntrico, demonstra didaticamente a situação da saúde pública no país e, em particular, da capital do Estado. Os pacientes que dão entrada em hospitais públicos de altíssima demanda, como o PSMC, frequentemente não encontram ali o respaldo para um tratamento adequado. Não podem se sentir seguros se não há leitos para todos. Se sequer há espaço no corredor, acesso a materiais básicos como soro, gaze e medicamentos para aplacar a dor. Muita gente já cansou de esperar e morreu à espera de uma vaga em qualquer ala do hospital. E a responsabilidade por essas tragédias corriqueiras - que de tão comuns já nem chamam a atenção da sociedade - na maioria das vezes não deve ser debitada na conta dos profissionais de saúde. E sim os gestores e políticos que ao longo de décadas empurraram para frente as deficiências de um sistema capenga, desassistido e desestruturado.
Cuiabá necessitava há muito tempo de um novo hospital público, capaz de desafogar o ProntoSocorro, e garantir atendimento digno ao cidadão que se desdobra para pagar impostos a vida toda e não recebe de volta 10% do que merecia por parte do poder público. O anúncio feito ontem pelo ministro dá esperança de que o São Benedito não ficará sem recursos federais, já que cerca de R$ 36 milhões serão repassados, via Fundo Nacional da Saúde, para a unidade, a título de custeio. O governo do Estado e, obviamente, a Prefeitura de Cuiabá, também aportarão verbas para manter o hospital. Não poderia ser diferente, já que a ‘bronca’ da saúde pública na Capital deve ser arcada pelos três entes, face as características peculiares do setor. É aguardar pelas prometidas melhorias e desejar que as tragédias silenciosas tenham fim logo.