(65) 3661-5615 / (65) 3661-5491
Clipping

55% dos enfermeiros se sentem inseguros durante atendimentos


06-07-2015 12:17 - ELAYNE MENDES

Cerca de 55% dos profissionais de enfermagem de Mato Grosso dizem não se sentir seguros durante a prestação de serviço à população. É o que aponta o estudo inédito realizado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Conselho Federal de Enfermagem (Cofen),divulgado ontem (3). Além disso, 69,7% desses profissionais afirmaram sofrer violência psicológica no ambiente de trabalho e 23,1% disseram já ter sidos agredidos fisicamente. Pesquisadora responsável pelo levantamento, Maria Helena Machado diz que o estudo será encaminhado ao
Ministério da Saúde, para que melhorias sejam garantidas aos profissionais de enfermagem do país.

Durante toda a tarde de sexta-feira, no auditório da Assembleia Legislativa de Mato Grosso, foi apresentado à categoria e gestores da saúde da Capital e do Estado o resultado do estudo realizado em todas as unidades federativas do país. De acordo com o presidente do
Conselho Regional de Enfermagem do Estado, Eleonor Raimundo da Silva, conhecer a realidade da enfermagem é refletir e propor ações para as políticas de saúde do país. “Correspondemos a 60% da força de trabalho da saúde nacional e as necessidades da categoria interferem diretamente na assistência prestada à sociedade”.

Conselheiro federal de Enfermagem, Leocarlos Cartaxo Moreira também expôs sua indignação com a falta de atenção da União junto aos enfermeiros e auxiliares e técnicos em enfermagem, mas não deixou de manifestar sua esperança de que melhorias podem ser garantidas através da exposição dos dados da pesquisa inédita envolvendo a categoria. “Infelizmente a crise na enfermagem é algo real e que acompanha as necessidades gerais da saúde do Brasil, que a cada dia que passa está mais carente de atenção. Ainda assim, trabalhamos acreditando que mudanças positivas ainda estão por vir e assim será até o fim”.

Atuando na área de enfermagem há 19 anos, Adalgiza Guimarães, 39, diz que sempre desejou ser enfermeira. Ela passou por todos os estágios de formação. Primeiramente fez um curso de auxiliar de enfermagem para ter certeza de que era a profissão que sempre desejou. Já atuando na área, sentiu a necessidade de novos conhecimentos. “Fiz o curso técnico e em seguida ingressei na faculdade, pois na nossa profissão novos conhecimentos e estudos são gerados todos os dias e necessitamos estar atualizados. Além disso, o salário pago é baixo, quando eu ainda era auxiliar ganhava menos de um salário mínimo”.

Atualmente, Adalgiza atua na rede privada de saúde, mas durante 16 anos se dividiu entre postos de saúde da família, policlínicas e
até o ProntoSocorro da Capital. Ela conta que já sofreu atéameaça de morte enquanto atendia nestas unidades. “Uma vez disse a um
senhor que chegou à policlínica com o filho passando mal que não podia fazer nada, pois não havia médico na unidade. Ele saiu e quando voltou apontou uma faca para mim e disse que me mataria caso não atendesse o seu filho”.

Agora na rede privada, ela conta que apesar de mais tranquilo, não chega a ser diferente. “Os pacientes acham que por estar pagando podem dizer o que querem para nós. Já fui insultada e maltratada diversas vezes e por coisas que não dependiam de mim.  Infelizmente, a população não consegue ver a importância e o real papel do enfermeiro e isso acaba afetando diretamente no atendimento”

A enfermeira diz que apesar dos problemas enfrentados, não pensa em abandonar a profissão. “Tenho esperanças que a saúde vai melhor e, consequentemente, as condições de trabalho dadas à categoria”. 

PERFIL DO PROFISSIONAL - Em se tratando de categorias profissionais, os técnicos e auxiliares de enfermagem são a maioria, representando 72,3%. Já o percentual de enfermeiros é de 27,7%. As mulheres representam a maioria na profissão (83,7%) enquanto os homens são apenas 15,9%. No quesito faixa etária, os profissionais são considerados em sua maioria jovens, uma vez que mais da metade (58,4%) tem até 40 anos.

Nas fases profissionais, 44% se encaixam na modalidade maturidade profissional e 37,4% estão na fase pós formação profissional e 1,7% se aposentou. Os profissionais de enfermagem atuante são 98,5% brasileiros e apenas 1,5% estrangeiros. Já no quesito naturalidade, mais da metade é de Mato Grosso (55,8%) e o restante se divide entre pessoas de Paraná (5,3%) , São Paulo (4,4%), Minas Gerais (4%), Goiás (3,9%) e Mato Grosso do Sul (3,9%). Quanto a cor, os profissionais que se consideram pretos ou pardos são maioria (67%), os
brancos representam 25,6% e os indígenas apenas 0,5%.

A pesquisa aponta ainda que a maioria dos pais dos profissionais de enfermagem do Estado possuem baixa escolaridade. Para se ter uma ideia, 37,6% dos pais só possuem o ensino fundamental e 17,5% não tem qualquer tipo de estudo. O índice é mais preocupante entre as mães, que 40,5% só têm o ensino fundamental e 21,4% não tiveram qualquer tipo de acesso a alfabetização.

Para Machado, existe uma grande desvalorização do profissional de enfermagem. Prova disso é que 25,8% dos profissionais recebem por mês até R$ 1 mil e 3,1% têm rendimento de menos de R$ 680. Em contrapartida, apenas 14% recebem salários entre R$ 3 mil e R$ 5 mil, com uma carga horária semanal entre 30 e 40 horas (37,5%). 

Dos mais de 20 mil profissionais de enfermagem do Estado, 92,6% estão empregados e a maioria (33,3%) tem até cinco anos de profissão. Dos 4,1% que se encontram fora do mercado de trabalho, 72,7% garantem estar enfrentando dificuldades em encontrar um emprego. Por outro lado, existem aqueles (34,7%) que mantêm mais de um vínculo empregatício na intenção de complementar a renda.

Mais da metade dos enfermeiros (51,2%), técnicos e auxiliares de enfermagem trabalham em instituições públicas e 21,6% em unidades
privadas. O restante (5,6%) é autônomo ou atua em cooperativas e fundações.   


Deixe Seu Comentário


Links rápidos