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MORTALIDADE MATERNA: 46,5%dos óbitos são dos óbitos são registrados egistradosaté 42 dias após o parto no Estado


29-06-2015 12:00 - ELAYNE MENDES

Mulheres que morreram até 42 dias após o nascimento do filho lideram as estatísticas da mortalidade materna dos últimos 10 anos, em Mato Grosso. Elas representam 46,5%, das 389 mulheres que morreram entre a gestação e o puerpério no Estado. As que vieram a
óbito ainda durante a gravidez, no parto ou sofreram aborto (espontâneo ou forçado), ocupam a segunda posição em se tratando do período de morte, com 30,2% do índice total e as que morreram entre o 43º dia pós-parto e menos de um ano após ter o filho estão em seguida, com 14%.

Apesar das estatísticas nacionais apontarem para a redução na mortalidade materna, entre 2004 e 2014 o Estado manteve uma média de 35 mortes por ano. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil reduziu em 43% a taxa de mortes maternas na última década, mas ainda assim está longe de atingir a meta estabelecida de diminuir o referido índice para 75% até o final deste ano.

De acordo com dados do Datasus (órgão do Ministério da Saúde responsável pela coleta, processo e disseminação de informações sobre
saúde), a maior parte das mortes maternas registradas no Estado, ocorreram em Cuiabá e Várzea Grande. As duas cidades juntas representam 17,5% do total de óbitos. 

Ainda conforme o levantamento, a maioria das mortes de mulheres gestantes e em período de puerpério ocorre em hospitais (89,6%). Os óbitos ocorridos em domicílio representam 4,5% do total, enquanto 2% ocorreram em estabelecimentos de saúde. Em se tratando das causas, a pré- eclâmpsia é a maior responsável pela mortalidade materna correspondendo a 30,3% do total de mortes nos últimos 10 anos em Mato Grosso. A hemorragia vem em segunda colocação, com 13%,  eguida das infecções puerperais com 10,6%.

Segundo o ginecologista e obstetra  Fernando Cabral Paes, a pré-eclâmpsia  é a hipertensão arterial específica da gravidez que, em geral, instala-se a partir da 20ª semana, especialmente no terceiro trimestre de gestação. “Essa doença pode evoluir para a eclâmpsia, 
uma forma grave da doença, que põe em risco a vida da mãe e do feto. Suas causas ainda não foram bem estabelecidas. O que se sabe é que estão associadas à hipertensão arterial, que pode ser crônica ou específica da gravidez”.

De acordo com o especialista, a única maneira de controlar a pré-eclâmpsia e evitar que evolua para eclâmpsia é o acompanhamento pré-
natal criterioso e sistemático da gestação. “Pacientes com pré-eclâmpsia devem fazer repouso, medir com frequência a pressão arterial e adotar uma dieta com pouco sal”. Ele acrescenta que em quadros mais graves, medicamentos antihipertensivos e anticonvulsivantes
podem ser recomendados. “Não há cura para essa enfermidade durante a gestação. Porém, a doença regride espontaneamente após o parto”. 

Mas existe ainda os casos diagnosticados como eclâmpsia pós-parto, quando a pressão arterial aumenta de maneira descontrolada, até o
12º dia após o nascimento do filho. Este foi o caso da assistente de recursos humanos, Ana Maria Fonseca, 24.

Com sete meses de gestação, Ana foi diagnosticada com incisura bilateral nas artérias uterinas (alta de pressão nas artérias que levam sangue e oxigênio à placenta). Porém, como sua pressão continuava estável, sua médica pediu apenas para que fosse reduzido o consumo de sal da alimentação. Tudo ocorreu bem até o dia do parto.

Liberada um dia depois do nascimento de seu filho Davi, Ana Maria foi para casa. No dia seguinte,sua médica informou que seus últimos
exames estavam todos alterados e ela teve que ser internada imediatamente, de modo isolado.

A auxiliar de recursos humanos apresentou inchaço por todo o corpo, e chegou a pesar quase três vezes mais do peso normal. Apenas três dias depois, os médicos descobriram que ela estava com eclâmpsia pós-parto, grave e silenciosa. A doença já tinha gerado
uma inflamação generalizada, atingido os rins e o fígado e por pouco não chegou ao coração e cérebro. “Nas melhores das hipóteses, eu poderia ter ficado cega, surda ou com qualquer outra deficiência. Isso caso não morresse. A própria médica disse que eu nasci de novo”.

Hoje, após o susto, Ana Maria ainda tem algumas restrições com saúde. “Eu continuo tomando proteína, por causa da anemia que adquiri. Não posso frequentar a academia e se caso desejar ter outro filho, ainda corro o risco de passar por tudo isso novamente”.

PERFIL DAS MULHERES - Das mulheres que morreram durante a gestação até o período puerpério nos últimos 10 anos, a maioria tinha entre 20 e 29 anos (50,9%), seguidas pelas que compreendiam a faixa etária de 30 a 39 anos de idade (25%) e em terceiro as jovens entre 15 e 19 anos (17,5%). 

No quesito escolaridade, a maioria das vítimas tinha apenas entre o ensino fundamental completo e médio incompleto (37%), em segundo
estavam as que possuíam o ensino médio completo ou superior incompleto (31%), seguido das mulheres com ensino fundamental incompleto (12,5%). Apenas 10,2% das vítimas haviam concluído o ensino superior.

As mulheres que fazem parte do índice de mortalidade materna em Mato Grosso são na maioria solteira (55,4%). As vítimas casadas
representam 30,2% do total de mortes entre a gestação e o puerpério. Em terceiro está as que se classificavam como amasiadas (11%). Mulheres separadas judicialmente ocupam a última colocação no levantamento estadual, com apenas 0,2%.

MEDIDAS TOMADAS - Médico ginecologista e obstetra, que preside a Comissão Técnica de Vigilância do Óbito Materno em Mato Grosso, Luiz Augusto Menechine explica que ações vêm sendo realizadas para reduzir o número de mortalidade materna no Estado, a começar pelo Fórum de Mobilização pela Redução da  Mortalidade Materna, Infantil e Fetal, que ocorreu nos dias 28 e 29 de maio deste ano. “O objetivo é que profissionais da saúde e gestores de todo o Estado discutam e tragam as experiências vividas em se tratando da
mortalidade materna. Para que assim, cheguemos a uma estratégia para a redução dessas mortes”. 

A SES informou que vem realizando capacitações dos profissionais da área da saúde, com o objetivo de habilitar as equipes que atuam no Programa Saúde da Família (PSF) para que identifiquem as gestantes e façam o trabalho de conscientização sobre a importância da realização do acompanhamento pré-natal nas unidades de saúde, orientando também sobre os exames preventivos necessários.


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