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Dependentes químicos participam de audiência


24-06-2015 15:37 -

“Aproveitem essa oportunidade e vejam isso como uma mão estendida”. Esse foi o conselho dado pelo juiz titular do Juizado Especial Criminal Unificado de Cuiabá (Jecrim), Mário Roberto Kono de Oliveira, nesta terça-feira (23 de junho), durante audiência coletiva realizada na sede do juizado. As audiências ocorrem todos os meses para dependentes químicos e têm a finalidade de viabilizar alternativas à punição de delitos, como uso e porte de drogas.

O magistrado explica que o intuito dessas audiências é ajudar às pessoas que são intimadas e que comparecem às audiências. “É uma nova forma de oferecer a Justiça, não esta cingida só com processo, mas também a busca de soluções, da pacificação social”, discorreu.
Conforme ele, a parceria com as instituições como Narcóticos Anônimos, Al-Anon, Amor Exigente, Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) Adauto Botelho são importantíssimas tanto para os dependentes químicos, quanto para as famílias. O juiz julga importante o acompanhamento familiar para a recuperação dessas pessoas. “A família de cada dependente químico também adoece. Normalmente todos acabam afetados pela sua conduta, somatizando e adquirindo doenças em razão do uso dessas substâncias que leva à consequências terríveis. Esses grupos ajudam os familiares a saberem como lidar com a situação”, explicou.

Todo o trabalho voltado aos usuários de entorpecentes, dentro do juizado criminal é por meio de apoio psicossocial dentro da estrutura existente. O juiz informa que a equipe do juizado procura encaminhar cada caso de acordo com aquilo que condiz com a sua realidade. “Temos desde aquele que já virou morador de rua, que já perdeu a auto-estima, de valores, que já foi expulso de casa pela família e até aquele jovem que a mãe pegou pela primeira vez no primeiro trago do cigarro de maconha. Cada um traz um histórico diferente e isso deve ser analisado. Trabalhamos o resgate da auto-estima e a valorização da pessoa. Esses parceiros vêm para nos auxiliar nessa questão toda, às vezes até pela internação para tratamento”, discorreu.

Depois de todo esse processo, quando há a aceitação do tratamento, os jovens em recuperação ou já recuperados gostam de passar suas experiências adiante e nesses casos, para o juiz Mário Kono, ver esses jovens já recuperados é muito gratificante. “Sentimos que realmente ali estamos cumprindo nossa missão”, disse o magistrado que também profere palestras durante as audiências coletivas onde explica o que é justiça terapêutica, qual o objetivo e o que se pretende. “É uma conversa clara com eles onde a intenção é realmente reconhecer que a dependência química é uma doença e tentar convencê-los a aderir ao tratamento que lhe forem indicados”, informou.


E foi essa oportunidade que Luana Doranty de Souza, de 29 anos, aproveitou, no ano de 1998, com a ajuda do Jecrim e, desde então, entre idas e vindas, depois de nove internações, que seus dias têm sido muito diferentes de quando era dependente química. Por 13 anos ela usou todos os tipos de drogas. Hoje, há quase dois anos está “limpa”, como diz. E conforme ela mesma conta foi graças ao Juizado Criminal de Cuiabá, que sempre a ajudou e direcionou para os órgãos competentes, que ela está bem hoje.

Luana conta muito animada que depois que começou a dar as palestras no juizado, tem sido reconhecida nas ruas e muitas pessoas a agradecem pelas palavras de força, de incentivo. É um trabalho social, como ela mesmo define. “Foi incrível depois da primeira palestra. As pessoas dizem o quanto as ajudei, dizem que vão começar a participar das reuniões, que vão pedir ajuda. Me emociono cada vez que isso acontece. Estou tentando passar para todos que eu puder uma mensagem de força, de fé e de esperança”, disse.

Para Luana as instituições parceiras do Jecrim ensinam princípios e valores para que as pessoas tentem a todo momento praticar, sentir como a vida pode ser e como ela pode melhorar sem as drogas. E ela dá um conselho: “permaneça e alimente cada vez mais dentro de si o propósito da recuperação, porque é o que vai mover cada vez mais o adicto conseguir atingir suas metas, basta querer”.

Como também é o caso de Vítor, de 22 anos, que preferiu não ter seu nome completo divulgado. Usuário de todos os tipos de drogas desde os 12 anos, quando começou a usar maconha, hoje ele encontrou apoio e força no grupo Narcóticos Anônimos. Ele esteve na audiência coletiva e falou da sua experiência aos presentes.

Antes de ser internado numa clínica de reabilitação fora do Estado, o jovem conta que usou os mais tipos de drogas, sendo as últimas, crack e pasta base. Depois de se envolver em muitas brigas, de ser preso ele atribui sua recuperação ao apoio que teve de seus pais em conversar e sugerir a internação numa clínica, aos 17 anos. Ele acredita na reabilitação de dependentes químicos por meio de tratamentos psicossociais. “Minha família é minha estrutura e toda essa equipe da clínica fez eu enxergar que eu tinha problema com droga, porque eu mesmo não enxergava”, relatou.

Há pouco mais de quatro anos sem usar qualquer substância química, Vitor, que ainda faz uso de medicação e acompanhamento psicológico diz que as drogas afetaram e muito seu corpo. “Tudo o que recebi de graça no Narcóticos eu tento repassar isso também de graça, o que me dá uma paz e me ajuda a fazer com que eu fique bem. Tanto que estou aqui de livre e espontânea vontade, passando a minha experiência para os outros. Depois que comecei a frequentar o Narcóticos Anônimos minha vida mudou, terminei o ensino médio, fiz faculdade, comecei a pós graduação e tenho a minha empresa hoje”, disse.

O trabalho realizado pelo Jecrim consiste em palestras com o juiz coordenador, com voluntários dos grupos parceiros ou de pessoas que foram usuárias de drogas e hoje estão “limpas”, como elas mesmas classificam. Após as palestras é realizado um trabalho individual pelos psicólogos do Núcleo Psicossocial do próprio juizado. Eles passam por uma triagem e de acordo com cada caso o encaminhamento é realizado para atendimento com os grupos como, Narcóticos Anônimos, Al-Anon, Amor Exigente, Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) Adauto Botelho.

Ao todo, foram emitidos 160 mandados de intimação e expectativa é realizar vários atendimentos nos períodos matutino e vespertino. 


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