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DESABAFO: Pacientes estão morrendo no PS sem atendimento, afirma médico


01-06-2015 09:48 - Welington Sabino

Com 30 anos de serviço no Pronto-Socorro Municipal de Cuiabá (PSMC), o médico ortopedista Hernandes da Silva Coutinho admite ter chegado ao limite. Ele denuncia que pacientes estão morrendo sem atendimento nos corredores da unidade, onde são "depositados". O profissional detalha os problemas enfrentados diariamente por pacientes que ficam em macas espalhadas nos corredores sem perspectiva de quando serão atendidos.

Segundo ele, faltam medicamentos e insumos e as equipes médicas trabalham de forma reduzida sem conseguir atender toda a demanda. “Estou vendo gente morrer sem atendimento, é humanamente impossível a gente conseguir atender a todos. Faltam medicamentos, falta pessoal, faltam materiais e cirurgias estão sendo suspensas por falta de material para anestesia”, afirma Coutinho que faz questão de expor seu nome e se deixar ser fotografado, pois enfatiza que chegou ao seu limite “diante de tanto descaso”.

Sobre as mortes no Pronto-Socorro da Capital, o ortopedista afirma que não se pode mais permitir que o descaso da atual gestão continue. “Aqui nesse Pronto-Socorro morre gente todos os dias, mas ninguém pode morrer dessa forma tão indigna, sem atendimento, sem respeito como está acontecendo. Estou vivendo uma agonia nesse ambiente ao ver pessoas morrendo largadas”, desabafa o médico.

Coutinho disse que perdeu um paciente no plantão da última terça-feira (26). Era um idoso que passou por uma cirurgia ortopédica e depois foi levado para um corredor e lá ficou sem receber acompanhamento. Ele soube da morte quando pessoas, que acredita ser familiares, foram pedir um atestado de óbito. O médico explica que não forneceu o atestado por não saber a causa do óbito e pediu que o Instituto Médico Legal (IML) fosse acionado.

Na opinião dele, a situação do PSMC piorou na atual gestão do prefeito Mauro Mendes (PSB) e atribui o problema em “falta de decisão política”. O médico avalia que a situação caótica começou nos últimos 10 anos quando Blairo Maggi (PR) foi eleito governador do Estado. “Nos últimos 10 anos nunca vi tanto desleixo com a saúde de Cuiabá e nos últimos 2 meses a Prefeitura cortou parte dos salários dos médicos. Todos aqui estão insatisfeitos e ameaçam não virem trabalhar”, denuncia.

Coutinho faz questão de dizer que é defensor do Sistema Único de Saúde (SUS) e por isso briga por melhorias e não hesita em “colocar a cara a tapa”. Explica que a saúde pública depende de repasses da União, do Município e do Estado que em sua avaliação, é o maior culpado pela saúde sucateada em Cuiabá e no restante de Mato Grosso.

Segundo ele, a União faz sua parte, embora poderia ajudar mais aumentando os recursos. “O Estado é o mais ausente. O interior está desaguando gente aqui no Pronto-Socorro por falta de um sistema que funcione também nos demais municípios. A situação começou a piorar no governo Blairo Maggi. Ele, ao ser eleito começou a destruir tudo que o Dante - ex-goverandor já falecido - construiu”, enfatiza o médico.

Além da superlotação e de todos outros problemas registrados no Pronto-Socorro Municipal de Cuiabá, médicos da unidade ameaçam suspender o atendimento devido ao “corte” nos últimos 3 meses de parte dos salários, que em alguns casos chega a 35%. Esta é a situação de Hernandes Silva Coutinho que na manhã da última sexta-feira (29) deu o “ultimato” aos diretores do PS e afirmou que se não recebesse os R$ 8 mil, total que deixou de ser pago em abril e maio, não voltaria ao trabalho. Enquanto o médico concedia a entrevista recebeu um telefonema informando que os pagamentos serão efetuados na próxima quarta-feira (3 de junho) e que ele poderia se acalmar.

Outro lado

A assessoria de imprensa da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) nega a falta de medicamentos e insumos médicos. Alega que a informação não é verdadeira. Também negou a falta de médicos afirmando que a rede credenciada é suficiente. “É mais do que necessário”, destacou. Reconheceu apenas que faltam profissionais de enfermagem e que o município não consegue contratar.

Sobre o corte de parte dos salários, ou seja, do adicional de horas extras, responsabiliza os próprios médicos "que não marcam o ponto corretamente e nem justificam. Dessa forma, perdem o controle gerando transtornos e “erros de cálculos nos pagamentos". Mas garantiu que os pagamentos serão efetuados na próxima quarta-feira, conforme foi definido em reunião. Ainda segundo a assessoria, a Prefeitura vem fazendo sua parte e dentro de 40 dias deve inaugurar o Hospital São Benedito desafogando a demanda do pronto-Socorro.

Também ressaltou que a grande quantidade de pacientes do interior que são atendidos no PS gera toda a situação, destacando que a unidade hoje atende de “portas-abertas” e não somente casos de urgência e emergência. Citou também que outra Unidade de Pronto Atendimento (UPA) está em construção e uma terceira em processo de estudos para lançar licitação. Quanto às demais afirmações do médico, a assessoria não se manifestou por acreditar que se trata de opinião pessoal.

Já a Secretaria Estadual de Saúde (SES) disse, também por meio da assessoria de imprensa, que o Estado regularizou o repasse aos municípios que é investido na saúde básica e na de média complexidade. Somente na atual gestão já foram repassados cerca de R$ 62 milhões relativos aos meses de outubro e dezembro de 2014 que estavam atrasados e também aos 4 primeiros meses desse ano pagos em dia.

Outra ação colocada em prática é o fortalecimento da dos Consórcios Intermunicipais de Saúde e regionalização da saúde para que os municípios do interior consigam assumir seus os pacientes fortalecendo os Hospitais Regionais e Municipais. Também já iniciou os estudos para implantar um Hospital Regional em Tangará da Serra (239 Km a médio-norte de Cuiabá).

Conforme a assessoria, o atual governo também já estuda meios de anular o decreto assinado em 2013 pelo governo anterior que reduziu em 50% os repasses da saúde aos municípios. A ideia é rever esses repasses para fixar novos valores com base em critérios específicos e a realidade de cada município.


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