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Em menos de 24 horas, quatro pessoas morrem por falta de medicamentos no Pronto-Socorro de Várzea Grande


21-09-2012 18:23 - Hiper Notícias

Após denúncias de que vítimas de AVC são tratadas à base de dipirona no Pronto-Socorro de Várzea Grande(PSMVG) o Hipernotícias resolveu acompanhar o caso dos pacientes que recebiam o tratamento inadequado e constatou que quatro deles vieram a óbito entre a terça-feira e quarta-feira (19), em menos de 24 horas.

Encaminhado ao PS no último dia 12, Antônio Luiz de Souza, 85 anos, faleceu ontem em decorrência do Acidente Vascular Cerebral (AVC), segundo consta no atestado de óbito.

O filho de Antonio, Samuel Luiz de Souza, 38 anos, assegura que não foi somente o problema de saúde ou mesmo a idade avançada a causa da morte de seu pai, mas a falta de medicamento, de estrutura física, o descaso na gestão do PSMVG e a greve dos médicos da unidade que completa hoje 103 dias. “A minha parte emocional está muito abalada. Tenho plena certeza que se meu pai tivesse tido atendimento correto, ele teria melhorado”.

Desde que foi encaminhado à unidade hospitalar, Antônio permaneceu no corredor, no chão, medicado inicialmente com dipirona, usado para tratar dores de cabeça. Cinco dias depois, uma maca no canto de uma sala do hospital lhe foi cedida.

Com dificuldades de respirar, sem fala e movimentos, o paciente permaneceu com uma sonda em seu braço, sem alimentação até que seu filho providenciasse a compra do soro, já que no hospital não havia, assim como diversos medicamentos estavam em falta.

Ao todo, Samuel comprou cinco bolsas de soros. Cada frasco custa em torno de R$ 5. “Ele ficou sem comer, porque não tinha soro. Nada foi providenciado para ele até a sua morte. Se não fosse eu, ele já teria partido antes”, lamenta.

Samuel lembra ainda que até a hora da morte de seu pai, a máscara de oxigênio, de extrema necessidade para aliviar o esforço que o paciente fazia para respirar, não  foi providenciada. Além disso, ele revela que os demais exames que Antônio deveria fazer não foram realizados.

“O médico que atendeu meu pai na terça-feira (18) disse que ele precisava fazer um hemograma, mas que não seria feito porque o hospital não possuía estrutura para fazê-lo”, conta.

O paciente já havia feito exames neurológicos para identificar os danos causados pelo derrame, mas como não existe neurologista há mais de um ano no PSMVG, Samuel ainda aguardava condições financeiras para ir em busca de outro médico.

Atualmente, um médico neurologista clínico cobra aproximadamente R$ 200 por consulta.

Antônio faleceu na quarta-feira às 16h e foi sepultado na tarde de ontem no Cemitério Parque Recanto de Paz em Várzea Grande.

“Eu me sinto lesado pelo governo. Eu pago imposto. Mesmo com dificuldades, eu pago minhas contas em dia. Eu sou motorista e não tenho mesmo condição, porque se eu tivesse, o mínimo que seja, eu não vinha nunca a esse Pronto-Socorro. Ter que comprar remédio e ver que nada muda e nada melhora. A gente só vem porque precisa”, lamenta.

Assim como Antônio, outros três pacientes que o acompanhavam na mesma sala de hospital faleceram entre os dias 18 e 19.

TRATAMENTO ADEQUADO

O médico do PSMVG, Klewer Antonio da Silva, explica que há dois tipos de AVC, o isquêmico e o hemorrágico, e que os pacientes que chegam ao  PSMVG, em decorrência de AVC isquêmicos não encontram tratamento.

Aproximadamente 90% dos pacientes vítimas de derrame cerebral que chegam ao PSMVG têm esse tipo de AVC. “Tratamento de AVC isquêmicos não tem porque não há neurologista clínico. Os pacientes com esse problema ficam ao Deus dará. Os que melhoram naturalmente ficam com lesões, mas voltam para casa sem falar e se movimentar. Já os que não melhoram, morrem”, afirma.

Se não bastasse a ausência de neurologista, Klewer confirma ainda, a falta de medicamentos piora ainda mais a situação dos pacientes. Segundo ele, nesta sexta-feira (21) foram comprados alguns medicamentos, mas em quantidades insuficientes.

“Antibióticos, por exemplo, de extrema necessidade para tratamento de várias doenças mais graves não foram comprados. É só dipirona e remédios mais simples e baratos que eles compram. Depois não sabem por que os pacientes vêm a óbito”, afirma.

Diante do cenário, Klewer aponta que aproximadamente quatro atestados de óbito são assinados por ele toda semana. Ao todo, o Pronto-Socorro conta com três médicos que atendem a cada 12 horas diárias. Isso significa que se os demais médicos seguirem a mesma média de emissão de atestados que Klewer, uma pessoa morre por hora no PSMVG.

“Existe uma sucessão de erros. Não tem médico, não tem remédio, não tem nada. Às vezes, há o profissional, mas não há o remédio, às vezes não há medicamento, mas tem o médico, e nós fazemos o que podemos e quando não dá, há mortes”, finaliza.

OUTRO LADO

Procurada pela reportagem a assessoria da Secretaria Estadual de Saúde (SES) lavou as mãos sobre o caso e informou que a verba destinada ao município é para ações de média e alta complexidade. Informou ainda que o repasse de R$ 1,2 milhão mensal está em atraso desde o mês de julho e que medidas estão sendo tomadas para quitar o débito.

Já a assessoria da Secretaria Municipal de Saúde (SMS/VG) informou que na última terça-feira foi realizada uma reunião entre a secretaria e a SES e que uma pequena parte do débito foi quitada. O valor serviu para pagamento do salário dos servidores do PSMVG que estava em atraso há um mês e que não foi possível a compra de medicamentos e nem atender as reivindicações dos médicos da unidade de Saúde que estão em greve.

No entanto, a SES refuta a afirmação da SMS/VG e assegura que a SES realiza somente o repasse de forma integral e que este não é destinado em hipótese alguma para liquidação de folha de pagamento. 


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