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Negociação permanente


18-11-2014 19:45 - Olga Lustosa*/ RD News

 Assisti o documentário “Carta da Escola Estadual Emanoel Pinheiro para as Escolas de Florianópolis”, embalado por uma trilha musical tocante. Eliseu Xumxum, um dos narradores do filme, fala sobretudo sobre o racismo invisível, praticado por pessoas que negam ser racistas e se envolvem em práticas racistas a todo momento.

Relatam as perturbações que ocorrem dentro do âmbito das relações do homem negro fora das comunidades quilombolas. Eliseu mora no bairro Cristo Rei, em Várzea Grande, região tradicionalmente conhecida como Capão de Negro, que abrigava comunidades quilombolas desde o século XIX, onde a dança do Congo era dançada nas ruas. Depois vieram as intervenções dos homens brancos. Doa-se um pedaço de terra para um, para outros, muda-se o nome da comunidade.

Eu não tenho receita do que seja um exemplo de harmonia racial, mas parece uma ação apropriada para uma sociedade saudável, desaprovar o racismo por qualquer pessoa de qualquer raça sobre qualquer pessoa de qualquer raça.

Quando as pessoas usam seus privilégios sociais para denunciar preconceitos, para falar de igualdade ela pode causar um forte impacto sobre o bem-estar psicológico das minorias. No entanto, é preciso aprofundar as discussões, estabelecer debate freqüente, pois em circunstancias preocupantes, os membros dos grupos majoritários, que geralmente não são alvo de preconceitos não conseguem sequer ter certeza quando algo tendencioso de fato é narrado.

As mídias sociais que estão recebendo pressão para limitar o discurso do ódio e do preconceito, e o documentário são apenas formas de comunicar o que se passa nesta época marcada pela inquietação e indiferença, com problemas graves que passam muito além da economia e política, e tem relação intrínseca com a qualidade de vida interior que estamos vivendo. Mensagens de apoio precisam ser seguidas de atitudes que demonstrem mudança do comportamento social.

Atualmente há apreensão sobre a direção que nossas vidas estão tomando diante dos estilos de emoções que ansiamos, da insensibilidade dos homens para com os que não são semelhantes e não freqüentam a mesma realidade. Com frequência é assim. A diferença de perspectiva ocorre entre aqueles que são alvo de preconceito e aqueles que não são. O preconceito racial tem um custo elevado para a auto afirmação dos vitimados, como diz dona Luzia no documentário. Muitas vezes, ela não sabe onde é o lugar dela na sociedade, por ter certeza que sua presença em muitos locais, será recebida com estranheza.

Nesta questão de preconceito racial é necessário haver um toque de pele para que se efetive a promessa de aceitação entre seres humanos de cores diferentes, porque muitos autores, entre eles Guillaumin, sustentam que o racismo tem origem numa predisposição natural que muitas pessoas apresentam para a hostilidade contra grupos diferentes. Este 20 de novembro marca o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra. Espero que o feriado possibilite reflexão sobre a situação dos negros no Brasil.

*Olga Borges Lustosa é cerimonialista pública e escreve exclusivamente para o RD News toda terça-feira - olga@terra.com.br


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