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ARTIGO: Pequenos prazeres trazidos pelo consumo


05-08-2014 11:57 - Olga Borges Lustosa

Aproxima-se o dia dos pais, marcado, como em todos os anos, por anúncios apelativos ao consumo nos shoppings e em todas as mídias e, neste momento, finalizo um semestre dedicado ao estudo da sociologia do consumo, o que serviu para arrefecer a demonização que tem recaído sobre a palavra consumo. A maioria das vezes que lemos sobre o tema, nos deparamos com críticas negativas e com visão puramente economicista sobre o ato de comprar.

Desde a leitura de “Ensaio Sobre a Dádiva”, do sociólogo e antropólogo frances Marcel Mauss, foi nos ensinado que, embora a sociedade ocidental moderna se caracteriza pelo desenvolvimento das relações comerciais, não temos apenas uma moral de comerciantes. Não é apenas o hábito de presentear, ou dar festas em homenagem a alguém que permanece entre nós. Essas relações são permeadas por muitos significados morais e sobretudo simbólicos. A dádiva não inclui apenas o ato de presentear, dar festas e homenagear alguém. O dar e receber é muito mais rico e nele carrega-se o entendimento de como se constitui a vida social a partir da redistribuição do carinho e dos tributos.

A cultura de um povo não está desvinculada das práticas de consumo. Quando compramos deixamos rastros de nossas preferências, da nossa condição financeira e de quem somos como seres sociais. Nosso sistema de vida vai incorporando as ações que praticamos diariamente e esse conteúdo acumulado interfere e determina o gosto, a preferência e o estilo de vida, que são variáveis conforme a condição financeira. A maioria dos autores reafirma a tese que o mundo das coisas tem sentido social, tem trajetória e muitos presentes, dados como mercadoria, adquirem valores simbólicos extraordinários.

Não cometa exageros ao presentear. Não se relacione com marcas com emoção, com passividade. Comprar não precisa ser algo ostentatório. Basta que compre o que de certa forma proporcione melhor qualidade de vida, o que possa reforçar sua identidade como pessoa amorosa e consciente. Comprar um presente não basta. A felicidade exige principalmente que seu relacionamento com as pessoas se dê em base de trocas que vão além das mercadorias, e incluem relações de afeto e respeito.

Para tanto, não permita que a publicidade corrompa seu gosto e lhe retire a sensibilidade. Comprar presente, como demonstração de amor é um gesto válido, no qual não precisa haver culpa. Diferente de consumir, que remete a ideia de usar algo até esgotar, extinguir. Vá as lojas para comprar o que entende que vai agradar ao seu pai no próximo domingo.

Enfim, comprar é uma atividade mundana, mas é também um momento em que o indivíduo é visto em suas práticas conscientes e racionais. Afinal, ninguém é obrigado a comprar este ou aquele produto. Não há arbitrariedade no ato de comprar.

Olga Borges Lustosa é cerimonialista pública e escreve exclusivamente neste Blog toda terça-feira - olga@terra.com.br 


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