Corrupção x impunidade

Por Alecy Alves*

Dias atrás, ao final de uma reportagem sobre mais uma denúncia de falta de medicamentos, antes desses escândalos que inundaram Mato Grosso, lá estava eu, questionando, de maneira reflexiva, sobre o destino dos bilhões que entram nos cofres públicos desta rica unidade federativa.

Como pode um Estado que arrecada mais de R$ 1 bilhão ao mês (o orçamento inicial de 2014 era de R$ 13,3 bilhões) atingir tamanho nível de desmantelo dos serviços públicos?

A segurança cambaleia, sem efetivo, viaturas e outros bens fundamentais ao bom desempenho do combate e prevenção à criminalidade. Já os bandidos, ao contrário, cada dia mais aparelhados e eficientes.

Aqui, o projeto de Segurança para Copa do Mundo se transformou em um grande engodo, amenizado pelo governo federal que, como fez em todas as cidades-sedes, com o envio de alguns equipamentos que, claro, serão exibidos como troféus para ‘calar a boca dos pessimistas’.

A saúde, então, nem se fala. Nada, ou muito pouco, funciona nesta área. Se faltam medicamentos até para pacientes internados, o que dizer sobre a assistência daqueles que ainda conseguem chegar caminhado ao posto de saúde?

Na área da Educação, uma construção nos moldes da “escola-modelo” idealizada politicamente serve de referência para o setor durante uma gestão inteira. Em horário nobre da televisão, uma unidade escolar construída ou reformada é exibida de uma maneira que leva (ou tenta levar) a entender que todas as escolas são assim, uma perfeição.

Já nas rodovias, nem com uma arrecadação extra, o Fethab, que seria quase que exclusiva para esse fim, sequer conseguem tapar buracos. Imagine, então, pavimentar os caminhos por onde são escoados milhões de toneladas de grãos.

A resposta para minhas reflexões e, acredito, de milhares de mato-grossenses, que já parecia óbvia, veio esta semana na forma do maior escândalo político mato-grossense. A repercussão foi nacional e envergonhou não apenas os envolvidos, se é que isso ocorreu, mas a população em geral.

O lamentável é que, a exemplo do que acontece no país, a vergonha, ou a falta dela, passa rapidinho, enquanto as práticas se repetem de geração em geração estimuladas pela perpetuação da impunidade e, por que não dizer?, da imunidade. Ou você conhece algum corrupto que devolveu milhões aos cofres públicos?

*ALECY ALVES é repórter do Diário de Cuiabá